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Mostrando postagens de setembro, 2013

O Bêbado Equilibrista

Era o bêbado que vinha na madrugada, o bêbado equilibrista. Por praças, casas, bancos e bordeis, com o litro, a cachaça quente. O bêbado se fazia noite, em silêncio andava por entre as prostitutas que embelezam os casebres, “o que seria da noite sem as prostitutas”, vestimenta, maquiagem, interesse, entrega a profissão que embeleza a noite, prazer na noite. De gole em gole, de noite a dentro o bêbado equilibrista se faz noite. Do cemitério ao meio da pista, o equilibrista bêbado contempla do alto as luzes da cidade “ não opaca as luzes das estrelas, ao contrário, reinventam o céu, caem sobre a terra. A terra agora parece céu, cheio de estrelas e belezas”.

Do dia que há muito não percebia

                                                                 Só o silêncio faz rumor no voo das borboletas                                                                                      (Manoel de Barros) Era dia quando o trio dos pássaros me tomou de agudo e como alma saída do corpo levantei-me, galos, cachorros, vento, fazia tempo que não os ouvia. Os pés já não pareciam mais com os das pedras que de tão espessos prendem o seu movimento.  Bebi um gole d'água em um copo que parecia um buraco empalhado. O cabide de madeira com delicadeza me estendia um dos seus nove braços, com educação segurava meus chapéus. Nas paredes da cozinha vi flores marrons, estrelas sem pontas, sol, girassol, batedeira.  A minha cozinha produz cheiro e gosto. Gosto mais do cheiro do café do que o gosto, é vida pela manhã. O banho que me cobria com um vestido morno.  Escolhi o chapéu listrado e fui trabalhar.

Tinha mundo

“Eu tinha tudo tinha mundo era mudo sonhava Era bicho no espreguiço que eu dava E tinha gente que fluente la dos inglês Que viu as pernas passadas do português E lhe foi indagar Por que essa mansidão não tens o que trabalhar? Continuei mudo sentado dono do mundo a contemplar”

Quando tentei voltar a ser criança

Depois dos 65 anos Resolvi voltar a ser criança. Percebi que não era difícil. Comecei pelas contas, troquei as do banco pelas das balas da mercearia. Resolvi que não sabia sorrir no emprego, talvez isso fosse a causa dele ser chato, vários papéis com palavras chatas, enfadonhas. Montei uma pastelaria, sonho antigo, adoro pastel, ia as feiras e sempre comia dois, carne e queijo, caldinho de cana, docinho, como mel. Passei a não usar terno, aquilo cobria me até os braços, me faz lembrar roupa de hospício. Usava minha camiseta mal passada, uma antiga com furos, tão solta, confortável.   Quando percebi que criança não tem medo de lama, gosta de bicho e anda sempre de pés descalços, e eu adorava fazer isso, mas agora tinha pavor de chão: “Chão imundo”. Comecei a andar de pés descalços e muitas vezes sujo de brincar com meu quintal. Lembrei que eu gostava de versinhos, cordel e samba, papai sempre cantou versos, toadas, samba de coco, aquilo era alegre, a família em volta, uns usando a
                                                                                                                                                           Cora                                                                oração                                                 no meu coração 
                                            A espuma do mar                                              sorrindo me tragar                                                                                                  O garoto empina pipa                                          a senhora vende pastel                                                                                                     onda mole                                                     suspira e soltar o ar                                                                                                

Sorrir

Hoje recebi abraços pelo olhar risos me receberam em harmonia olhares tristes, serenos, parceiros, disfarces, alarme olhares presos outro bobo inocente não pude prevê os golpes de risos que tive das piadas parceiras, camaradas risos de ignorância de cantos engraçados não pude prevê, mas pude sorrir

Poesia Dispensável

                                                                    Penetra surdamente no reino das palavras.                                                                      Lá estão os poemas que esperam ser escritos .                                                                      (Carlos Drummond de Andrade) Foi nas palavras que ouvi o tempo descascar as paredes brotando desenhos pessoais sem me preocupar é inútil não se preocupar a poesia não quer dizer aparecer não se esconde nem aparenta tão pouco acalma o poeta é dispensável por não se preocupar por estar cheio de irregularidades como onda que anda sobre o mar ou pássaro que canta a assobiar desprovido de segurança o poeta não classifica a poesia não qualifica o poeta não se preocupa
A Armadilha A criança brincava debaixo da cama, dizia está caçando armadilhas.  Encontrou armadilhas de ursos, de gente grande pra avião e ladrão. Sua tia achava que o menino estava louco então ele preparou uma armadilha pra “mulherzinha”, danado, conseguiu prende-la na hora que usou seu sapato, mas ela não prestava atenção que havia caído numa armadilha e com pressa saiu do quarto. O garoto continuava na floresta a preparar armadilhas, dessa vez iria pegar uma nuvem.