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Mostrando postagens de julho, 2018

Ébrios

                                                                                                                                                                                    Imagem: Milo Manara                                                                                                                                                                        "Neste caminho encontra-se o tesouro  Pelo qual tantas almas estremecem;  É por aqui que tantas almas descem  Ao divino e fremente sorvedouro."  Cruz e Sousa                                                    Ébrios Mostrou os seios de mãe e natureza Deixou que seu gosto eu provasse Deixou que com firmeza pousasse E s ubimos pela proa à vagareza Destilamos cachaça contra a correnteza Alcei-lhe âncora na tempestade Como piratas ébrios sem vaidade Cambaleamos de proa e incerteza Raios e trovões inauguraram a noite Madrugada adentro, as águas, o açoite A beleza escura em pele clara Com

Calíope

"Carne opulenta, majestosa, fina,  Do sol gerada nos febris carinhos,  Há músicas, há cânticos, há vinhos  Na tua estranha boca sulferina ." Crus e Sousa Engendra a substância de tua bela voz Lendo seu poema épico da batalha Donde os Titãs jogados à fornalha Do poder divino. Oh! Força algoz Ornada de grinalda comtempla a sós Do monte parnaso inspira-se e talha Na tabuleta com seu brunil não falha Em remanescer à poesia uma foz Jorrando a paixão do Deus Apolo Entre suas vestes dois filhos amaram Mas Eagro, talvez mais obtuso Deu-te ao ventre as notas de seu falo Um Orfeu aventurado cantaram À jovem Calíope seu ar majestoso

Noite fria

                                                                      Imagem: Autor desconhecido                                                           " Musa eu sou seu museu aberto pra visitação" Chico A noite fria ensina de marasmo a pensar. Ficar parado esperando o véu meio azul-escuro, meio preto, descer à temperatura do sol e o céu ir fininho de lado como uma concha dormindo depois de foder. O fel desenrolado debaixo dos corpos em chamas sem fumaça, sem brasa. O véu por debaixo da cama, caído como os demônios, como a decência, que se foda! Caído como a consciência. No escuro quando as roupas e a lucidez não fazem sentido ninguém quer a visão de volta, a audição do corpo molhado por dentro e por fora, as bocas se pegando, pegando as tetas, babando o colo, comendo o pescoço, famintas! Quando a rua se cala, a lua se despe, o vento assobia lá fora, gatos safados descem bêbados do telhado no quarto, no chão, no sofá, em cio. Na agonia de se engalfin

Enseada

                                                                                                                                                           Imagem: Pablo Gallo "exagerado! jogado aos seus pés com mil rosas roubadas exagerado! Cazuza Um dia fui poeta No outro as coisas Dias dentro de dias Coisas dentro de poeta Enseada dentro da terra A terra desaguando na enseada Tocando as beiras rosadas de areia e pés É como se a enseada esperasse Eternamente O calor da cidade por sobre seu corpo De repente A agonia monstruosa do tsunami Feito bicho e gente Terrenos Fecundos Exagerados

Sem verso nem prosa: poesia!

                                                                                                                                                       Imagem: Jack Vettriano "Então, como se fosse um feixe aceso, colhe o fogo num gesto de desprezo, atira-o bruscamente no tablado e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado, a sustentar ainda a chama viva. Mas ela, do alto, num leve sorriso de saudação, erguendo a fronte altiva, pisa-o com seu pequeno pé preciso." Rainer Maria Rilke Quando estamos no colo um do outro me veem versos que não consigo reter. Palavras soltas como os fios de cabelo que tento segurar, mas eles gritam e berram e eu as esqueço como a dor da cabeça puxada. Não consigo gravar a poesia que se fez na pose, no sorriso maluco na hora de não sorrir, na foda escondida, na cintura ciranda, pois enlouqueço. Sonho com uma palavra po ética no instante em que me pede: pare! E eu te calo e tudo esquecemos: de parar, do lugar, da hora, da ra

A espera

                                                                                                                                   Imagem: Caspar David "eu to com uma vontade danada  de te entregar todos beijos que eu não te dei  e eu to com uma saudade apertada  de ir dormir bem cansado  e de acordar do teu lado pra te dizer  que eu te amo" Rubel Ouvindo músicas passadas esperando parado nas ondas das notas esperando nas horas fugidas músicas tortas fui rei, mendigo e astronauta poeta, bêbado, lúdico mas com você viro criança peralta correndo lúbrico suando pela natureza que encontramos ao céu aberto com violência, com beleza te espero como o azul espera o dia te espero como um feto te espero como o poeta a sua poesia

Saudade (2)

                                                                                                                                               Imagem: Jack Vettriano "Se tu soubesses no que penso e no que tenho pensado! Enquanto eu falo a minha alma desvaria, e a minha febre devaneia. Sonhei sangue no peito dela, sangue nas minhas mãos, sangue nos meus lábios, no céu, na terra... em tudo!  " Penseroso Saudade é coisa que se sente e não se doma. A falta do acontecido e do não feito. Saudade é estrada de chão batido sem rosas no caminho, as laterais barrancosas e o quase deslize profundo. A carona na beira incerta. Os dois lados da moeda no cara ou coroa. Espera de mar sem saber se amar. Desespero de vizinhos. Encontro de vizinhos tão distantes em peito, olho, prosa e verso. Espera de 9 anos criançados cirandeiros para o reencontro de adultos maduros madrugueiros. Saudade é toda a cachaça, a insônia e loucura que se bebeu, que se fodeu. Toda comida qu

Tendência ao mal

                                                                                                                                                              Imagem: Jack Vettriano Depois de sonhar e ler uma carta Ah! tendência infernal de ferir a ferro e fogo; como um punhal, luas e noites cheias de furor e frio. Ah! tendência mortal de ser mortal e querer a morte em tudo na vida – horas, poros, povos... Inferno é meu sobrenome soado ao ouvido, deprimido como um comprimido dissolvendo-se ebulíco. Infernal maldito, amante, lúdico, infame, saudosista das pernoites. E quem andar comigo em carinho irá adoecer, pois carregar um câncer externo pode ferir-vos, todas), por dentro. Um tumor que caminha e mente, faz o mal sem desculpas. Não só aloja-se ao lado enegrecendo o futuro, mas domina o peito e se parasita como uma pulga num cão, fazendo vos febrias, sofridas e amargas; loucas, sem rumo, sem colo e chão; sem acreditar mais no amor, sem sofrer pela dor, nas águas d

De Noite

Imagem: Jack Vettriano.                  "Não há culpas quando se tem um coração de poeta" Juliano Beck. No fundo do seu colo perdendo minhas lembranças e meu presente. Um criminoso espião em busca do perigo. Todas as portas abertas e o medo de um penetra enquanto penetro de lado seu escuro quarto. Penetro sua vida à noite sem cortinas e um lençol. Vizinhos acordados e nós dois molhados querendo acordar o mundo com as mãos. Mas acordamos apenas o sono que sentíamos, e conosco cometeu ainda mais um crime antes de dormirmos. Um crime perfeito, sim! Uma poesia de pernas abertas com tudo para ser incompleta, deu-se deitada na cama, sentada na trama, nos versos do avesso das pernas. Ejaculando alto como o filme que fazia sentido estar sem ser assistido. 

Encontros

                                                                                                        A todos os reencontros - dos cabelos e olhares. Cometendo deslizes loucos nas alturas das nuvens. Beijos fortes e sedentos de desejos uns nos outros escalando a espera dos corpos nus e molhados de suor e fome, como um cão medroso babando por refúgio. Sentados debaixo de orgásticas madrugadas à espera. Vários anos depois duma só vez sentidos e calados, soltos, ouvidos, tocados. O medo que se fez na carne e penetrar em você agora é o frio na barriga mais gostoso. Sentindo o calor interno e o coração batendo no meu coração. Suas costas lavadas e gratas do corpo que te pesa tesão em cima. Sua profana, cara! safada, olhos abertos, semifechando, fechados, transmite na mordida da boca o abafo do grito que quer soltar (mas não pode). O tempo é pouco até termos que nos e