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Salvação Poética



Abraçava um mundo que não era só meu,  fazia da dança dionisíaca a arte suprema regozijando, revitalizando-me na ultima gota de leite sagrado. Quebrava-me em cacos e revirava-me em pó. Não me sentia, nem doía -um nirvana anda luz. Emérito das sagradas escrituras dos cânticos dos cânticos. Abençoei as ninfas aprendizes no sufoco idolatra dos meus braços em suas iniciações, elevei as senhoras mais cativas de desejos antepassados, apanhei pelas mãos donzelas perdidas a meio caminho da iluminação, trabalhei junto a pedantes em carinhos espirituais, elevações noturnas, viagens astrais donde podia ver-me no trabalho árduo da lapidação do ser. Lia noites afins de evangelhos em corpos e olhares fulgurantes quando nascia a chama da vida em retorno ao presente. Era não perder a sanidade o mais difícil dos trabalhos. Mais forte o desejo de salvar a humanidade de seu fatídico tédio, que preferia ver nos sorrisos finos e mordidos a agonia de seus suspiros em força gradua, vezes animal vezes imortal.

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