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Estradas noturnas te dão o blues

Estradas noturnas te dão blues Sabe aquelas casas que ficam sozinhas nas estradas? Algumas com as luzes acesas? Há algo de blues nelas. Pensei nisso e também em como não temos um estilo musical somente triste. Temos os que falam de amor, mas nunca de toda a filosofia da vida simples e sofrida Aquelas casas nas beiras de estradas são tão solitárias que passamos e as vezes nem as percebemos. As luzes acesas quando a noite cai são contrastes com a penumbra do caminho que parece um buraco sem fim, um túnel que passa o tempo enquanto não amanhece.  Pelas janelas dos ônibus se veem esses casebres por que uma luz pequena os cobre como um vestido de boneca. Lá estão cadeiras velhas na varanda, as portas às vezes fechadas, um cachorro deitado sem se incomodar com o barulho daquele monte de ferro motorizado.  As casas solitárias tem um ar de blues. Exalam solidão e até mesmo tempos difíceis, quando de tão velhas; além de suas cadeiras, estão em estado de caducidade, os cachorros magros e cabisba
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Ofício

  O ofício de coisas é se permitir fingir absolutamente até o fim Como numa fotografia que às vezes revela coisas que não são como num poema que diz coisas que às vezes não estavam ditas Como os caminhos das sombras das árvores por onde mendigos passaram despercebidos no parque E as fezes de ratos e pombas que outrora povoaram a praça  Roland Barthes dizia que a fotografia é como a morte – um momento que nunca mais voltará a ser; o registro Flores e rosas multicolores que no outono despendem à morte Ah! mas como é Bela uma fotografia das flores ali no chão estando defuntas Para nós que apenas passamos depressa Ou fazemos pose de turista Para nós que apenas vemos uma fotografia e a guardamos Para nós que Lemos um poema, tudo ali é Belo  No enquadramento da foto; nos estreitos do poema, às vezes o ofício da natureza é parecer maior que as grandes construções Final alternativo:  No enquadramento da foto; nos estreitos do poema, às vezes o ofício da natureza é parecer maior que as grandes

Ao Poeta Maldito - N° 666

Na companhia de fantasmas  Que te aconselham ao mal Bafore nuvens de desgosto  Não espero nem desejo que se cure, poeta Pois as feridas abertas na América Latina  Transformam esse grande hospital da vida  Em um manicômio incurável  Por isso, encha as veias de veneno com uma seringa de pitu E trepe na Luz mórbida das estrelas como os gatos  E vire as latas em bêbadas noites  Charfurde o lixo como os porcos citadinos  Seja sempre esse enfermo  Sem fama alguma em hospital particular   Definhe, porque a carne podre que definha é a vida que a cada gole corroeu Ame, nunca a mesma. Não cometa mais esse erro Coma as pestilentas, as infames, As alcoólatras que dão porres pesados de poemas, papéis vomitados de ressacas, voltas pela cidade fumacenta, deixando os rastros imundos das feridas Não se cure, poeta Tu és um cão do Sul que veio se queimar nos trópicos  Sentir a pátria te bater e te cuspir na cara  Assim como as bucetas que te bateram e cuspiram  Fume o ópio e cheire o incenso  Medite no

Transcende

Imagem: Caspar David Friedrich, de 1822.                                                                                                             Existe prazer na matas densas Existe êxtase na costa deserta Existe convivência sem que haja intromissão no mar profundo e música em seu ruído. Ao homem não amo pouco, porém muito a natureza                                                                                                                                                                                             Lord Byron Quero ser parte da relva Desconhecido pela brisa que passa Ser parte do mar e navegar profundo Constante como o vento de todas as estações Aquele que roda o mundo Diminui o ritmo para ver a chegada do verão Passeia na neve do inverno sem tremer de frio Permeia ruas barulhentas sem se incomodar Quero ser como o voo azul das aves Pintando de aquarela um lago luminoso O brilho que soa orquestra Uma árvore que dá balanços

Olhares

                                                                     Imagem: Mark Keller Apesar dos olhares temos que nos conter Olhares como portais de fome Olhares enquanto te desprezam Vivares em pensamentos cálidos Franzinos sem movimentos Olhares como a gota d’água que as cargas São pelos olhares que a tentação palpita o peito No desprezo, no sem saber ser vista(o) No chão do bar que via chuva Pendendo em socorrer-se na poça Desviar um carro na curva Olhares ferozes de culpa De passado Olhares de fuga De presente Quando se encontram se combinam Se diferem Se apreendem e se espantam Se esfregam e se idolatram Se rejeitam e se desprezam Olhares incertos como 2 e 2 são 5 As portas do eu que imagina penetrar Excitação de longe Sem toque Chamego distante do tamanho do mar

Ébrios

                                                                                                                                                                                    Imagem: Milo Manara                                                                                                                                                                        "Neste caminho encontra-se o tesouro  Pelo qual tantas almas estremecem;  É por aqui que tantas almas descem  Ao divino e fremente sorvedouro."  Cruz e Sousa                                                    Ébrios Mostrou os seios de mãe e natureza Deixou que seu gosto eu provasse Deixou que com firmeza pousasse E s ubimos pela proa à vagareza Destilamos cachaça contra a correnteza Alcei-lhe âncora na tempestade Como piratas ébrios sem vaidade Cambaleamos de proa e incerteza Raios e trovões inauguraram a noite Madrugada adentro, as águas, o açoite A beleza escura em pele clara Com

Calíope

"Carne opulenta, majestosa, fina,  Do sol gerada nos febris carinhos,  Há músicas, há cânticos, há vinhos  Na tua estranha boca sulferina ." Crus e Sousa Engendra a substância de tua bela voz Lendo seu poema épico da batalha Donde os Titãs jogados à fornalha Do poder divino. Oh! Força algoz Ornada de grinalda comtempla a sós Do monte parnaso inspira-se e talha Na tabuleta com seu brunil não falha Em remanescer à poesia uma foz Jorrando a paixão do Deus Apolo Entre suas vestes dois filhos amaram Mas Eagro, talvez mais obtuso Deu-te ao ventre as notas de seu falo Um Orfeu aventurado cantaram À jovem Calíope seu ar majestoso