Imagem: Jack Vettriano
"Então, como se fosse um feixe aceso,
colhe o fogo num gesto de desprezo,
atira-o bruscamente no tablado
e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado,
a sustentar ainda a chama viva.
Mas ela, do alto, num leve sorriso
de saudação, erguendo a fronte altiva,
pisa-o com seu pequeno pé preciso."
Rainer Maria Rilke
Quando estamos no colo um do outro me veem versos que não consigo reter. Palavras soltas como os fios de cabelo que tento segurar, mas eles gritam e berram e eu as esqueço como a dor da cabeça puxada.
Não consigo gravar a poesia que se fez na pose, no sorriso maluco na hora de não sorrir, na foda escondida, na cintura ciranda, pois enlouqueço.
Sonho com uma palavra poética no instante em que me pede: pare! E eu te calo e tudo esquecemos: de parar, do lugar, da hora, da razão, da memória e deixamos a negativa da exclamação: pare! nos possuir no momento em que estamos mais molhados, ejaculando, nos unindo por dentro e por fora em carne, viva! esfolada, fluida, quando nossas caras, bocas e tremedeira denuncia sem crime nem castigo, sem verso nem prosa: poesia!
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